quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O Choro e a Piada



Mais importante que qualquer outra informação que venha a aparecer nesse post, preciso deixar claro que não sou, não fui e nem pretendia ser eleitor de Eduardo Campos. Caso o texto ainda seja relevante, não votarei em qualquer candidato nas eleições deste ano. E não o farei para todos os cargos, decidi que simplesmente não vou votar, mas esse não é o foco de nosso papo.

Procuro respeitar o princípio da pluralidade e divergência de opiniões sempre. Persigo isso, embora seja um ato de constante evolução, me sinto cada dia mais feliz com o resultado disso. Creio que divergir seja um direito, uma necessidade. Também acho que respeitar seja um dever. As pessoas têm o total direito de serem idiotas, exatamente como você pode estar me considerando agora ou logo mais. Mas preciso que algumas pessoas compreendam que o excesso de sensibilidade está matando a própria liberdade. O dever do politicamente correto está nos deixando especialmente atrasados, enquanto achamos que estamos evoluindo intelectualmente.

Eu lamento que o Eduardo Campos tenha morrido, assim como todos os outros envolvidos, que ficam esquecidos. Lamento por educação, por sua família, por seus filhos, por tantas outras características e protocolos sociais que me levam a esse sentimento. Espero que seus amigos, sua família, especialmente seus filhos, consigam força e tranquilidade pra atravessar esse momento, de verdade. Sua morte é um absurdo da lógica, pelo menos pra mim. Tenho a impressão de que algumas pessoas não morrem, ou não podem morrer em determinados períodos. Como o cara era candidato a presidente, parecia haver algum acordo para que a morte não o ceifasse num período como esse. O fato é esse, ele morreu. Junto com sua morte, surgem dois tipos de reações: as sensíveis e as jocosas. E aí está nosso problema.

Sim! Eu fiz piada com a morte do Eduardo Campos. Muitas, várias, dezenas. E penso em uma piada ou outra volta e meia, do mesmo modo que não me furto de rir disso quando vejo uma boa piada. Não, eu não acho isso um desrespeito. Não sou amigo de nenhum dos falecidos, não conheço nenhum familiar ou amigo. Se eu conhecesse, posso acreditar que meus protocolos sociais me impedissem. Perdi um amigo que era como um irmão no ano passado. Mesmo em meio a toda dor, eu e outros amigos ainda conseguíamos ver, algumas vezes, o que aconteceu com boa dose de humor. O humor e o desrespeito estão na cabeça de cada um. Entendo a sensibilidade de algumas pessoas, que deveriam ser bem próximas ou admiradoras do candidato e estão na minha timeline muito sensibilizadas. Entendo e respeito.

Mesmo assim, é difícil compreender determinadas coisas, como por exemplo, um nipônico blogueiro famoso que adora falar mal de qualquer coisa, principalmente daquilo que ele não gosta. Acho curioso que no dia como o de hoje, ele classifique como psicopatas ou psicóticos (não me recordo) o grupo de pessoas que acaba rindo de tudo isso. Minha curiosidade provém da quantidade de vezes que ele aproveita alguma situação que pode doer nos outros para fazer sua contribuição ao mundo. No dia do aniversário de morte de 20 anos de Senna, Sakamoto não teve a menor sensibilidade ao procurar desidratar e ridicularizar a morte de alguém que foi, para tantos, muito mais “próximo” que Eduardo Campos.

Ele também curte bater na imprensa e criticar a sede da classe pela audiência, quando já especulam o que pode acontecer daqui pra frente. Sim, o que vai acontecer é fundamental! Principalmente pra quem não está chorando, comovido e enlutado com a morte do candidato. Mas pra ele soa aproveitador! Talvez soe aproveitador porque não pode ser ele a tirar o proveito, ou porque é preciso se destacar por ser diferente! Afinal, enquanto no último primeiro de maio a imprensa rendia homenagens ao piloto, o rapaz resolveu diminuí-lo.

Quanto aos apreciadores de teorias conspiratórias sem humor, aos xiitas que trocam farpas e acusações... bom, acho que estamos falando de gente que pensa. Creio que os sensíveis e os jocosos o façam. Cada um vê do seu jeito, cada um sente de uma forma. Só acho que hoje em dia as pessoas acabam sendo sensíveis demais e pouco práticas demais. Isso gera um comportamento controverso. A piada é tão verdadeira quanto uma sensibilidade sem motivo.

Piadas com a morte são mais velhas que seus pais. Com certeza não se trata de um movimento exclusivo das redes sociais.

Meus sinceros pêsames a todos os amigos e familiares das vítimas dessa fatalidade.

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