Eu adoraria ver o povo discutindo
política. Mas eu também adoraria ter em quem votar. Mesmo assim, nossa
indigência de opções não é suficiente para justificar o circo que se formou em
torno dessas eleições. Sou crescido o suficiente para compreender que eventuais
ataques façam parte de uma disputa eleitoral, mas o maior problema é
transformar isso na base de uma campanha. Campanhas que se baseiam no medo e no
ataque, mais nada! Programas de governo, propostas, projeções e até promessas!
Nem promessas temos mais.
Eu pensei que a pobreza das
nossas discussões fosse somente um reflexo das campanhas ridículas que
vivenciamos. Não são. Apesar de se alimentarem, o fluxo acontece no sentido
contrário, a campanha é desenhada analisando o eleitorado. Ela reflete e
potencializa apenas o que somos como um todo. Os analistas acertaram, nossa
população se divide em duas torcidas.
É o novo tipo de eleitor que toma
conta do país, o “eleitorcedor”. Esqueçam a lógica, esqueçam os argumentos e
nem pensem nos fatos. O ‘eleitorcedor’ não opina, não discute, não debate. Ele
grita, ele rosna, ele postula, nada mais do que isso. Caso você desconstrua um
de seus pseudo argumentos através de fatos, dados ou qualquer coisa que
valha... pior para os fatos! Essa é a nossa atual realidade. Aecistas e Dilmistas, Petralhas e Tucanalhas,
pouco importa o nome, é mais fácil encontrar um vascaíno elogiando o Flamengo,
ou um corintiano falando bem do São Paulo, do que encontrar um pingo de
coerência nos discursos políticos atuais.
Pelo menos no futebol vejo gente criticando o próprio time.
"Acabou o amor", "o choro é livre", "o primeiro milho
é dos pintos", "nunca serão" e tantas outras bizarrices tem me
deixado cada dia mais descrente em um futuro melhor. Provar que o outro lado
também é ou foi corrupto não justifica um voto. A profundidade da discussão
política não chega à profundidade de um pires. No futebol, por diversas
vezes, sabemos reconhecer qualidades de um adversário. No Brasil de hoje, isso
não parece ser possível. Mas não adianta, pois a maioria desses
"intelectuais" politizados acreditam que futebol é só circo e
enxergam nobreza na porcaria que espalham.
Vivemos uma campanha
potencializada pelas redes sociais. Como quase tudo que ganha força nas redes
sociais, quase sempre os destaques ocorrem pela radicalização, pela
polarização. Como se já não bastasse a falta de respeito em relação ao convívio
com a opinião de uma maioria, como vimos com a eleição de alguns nomes.
Compreender a democracia como algo
não tão bonito é antipático, mas te ensina a respeitar a opinião de
determinados grupos. Nesse aspecto, o pessoal que celebra a diversidade sempre
corre por fora. São simpáticos até que surja uma discordância. A partir daí,
você não presta e merece ser agredido. Mas quando vencem, logo após o gozo
futebolístico, versam sobre a beleza da democracia e seus princípios.
Não é preciso coerência para ser
eleitor, nunca foi preciso. Sempre foi interessante ser coerente, mas
desistimos de vez. Em alguma etapa do processo, saiu de moda. O pior? Eles
perceberam! Agora, basta alimentar o povo com o circo que vem sendo feito,
estamos sendo o melhor combustível para o fogo dessa lona. Somos o combustível
e o palhaço, mas não interessa enxergar, basta a narcose do momento da torcida.
Vá pra urna feliz, palhaço! Faça
seu golaço. Não há golaço... há penas, o laço... a corda. Independente do time,
já parou pra pensar de quem é o pescoço? Não, né? Vista sua camisa e enfie o
dedo, confirme com gosto, achando que alguém presta. Não é pra não votar!,
seria pedir demais. Basta tirar esse sorriso da cara. Vocês deveriam ter
torcido mais na infância, o futebol tem muito a ensinar para quem acha que
sorrir nesse momento é possível.
Que inveja que tenho de nossa
democracia, que engatinha! Nós só sabemos rastejar.
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