A falta do que fazer é um item
fundamental na vida de um homem, praticamente um artigo de luxo. O ócio
criativo que nos abençoa sempre traz consigo algumas considerações bizarras
sobre a vida. Naturalmente, essa flanação do baixo intelecto, quando produzida
a partir de um cérebro que corresponda ao princípio extintivo de um ser humano
XY, tende a acabar em... seres humanos XX.
Outro dia, ignorando parcialmente
qualquer pudor advindo de um estado civil que nos incapacite um rodízio sexual
intenso, topei na timeline de uma rede social com um post de uma amiga. Sabe...
você, independente de estar solteiro ou casado, vendendo saúde ou em coma,
sempre passa o olho e fala; - poooourra, fulana tá que tá. Ah, se eu pudesse.
Deu uma melhorada bacana!
Ato contínuo, você não resiste,
entra no perfil dela e vê que além de muito mais gostosa, ela vive solteira.
Como assim? – você se pergunta – continuando a fuçar cada vez mais. De modo
quase instantâneo, você vê que a conta não fecha. Ela era gata, gostosinha,
curtia várias paradas maneiras, era interessante e tava em todas. Daquelas que
espancavam na cerveja e depois fechavam a noitada num podrão contigo.
Suas respostas são respondidas
rápido depois desse apanhado de coisas! Fuçando as fotos, você vê que não
faltam selfies no espelho da academia, roupa embalada a vácuo multicolorida,
polainas e hashtags saudáveis. #esmagaquecresce #resolvimudar #nopainnogain e
tantas outras não faltam nas postagens. Tudo isso vem acompanhado de frases
motivacionais tão profundas quanto os atuais reservatórios hídricos de São
Paulo. E você pensa...
- Ah, mas ela só tá malhando! Que
mal há nisso?
Mais uma fuçada na timeline...
outras fotos revelam fotos de comida, muitas fotos! Também recheadas de
hashtags. As comidas não são as mesmas da noitada, não mesmo! E todas
geralmente vem acompanhadas de suas respectivas receitas! Mais ou menos 95%
dessas receitas, contam com a adição de scups de whey protein. Os podrões de
outrora, os maravilhosos petiscos e tanta iguarias provenientes da baixa culinária
da boemia carioca são esquecidos e, sempre que possível, condenados! Você ainda pondera...
- Mas era legal ir pro boteco com
ela!
Nessa hora, ela reduz tuas
ilusões a pó com mais fotos... agora de eventos badalados. Roupas
meticulosamente calculadas substituíram aquele sex appeal casual que ela sempre
teve, tudo parece tão programado quanto uma série na academia. A cervejinha
agora não pertence mais, dá barriga! Vodca com energético, ou algum destilado
com suco.
Você finge que acha legal e
pensa. Porra, mas beber num prejudica esse culto ao corpo? É, prejudica, mas se
fosse eu, como eu iria conseguir aguentar ter trocado meu conteúdo por um
upgrade de embalagem? Essa parece ser a resposta. Você fecha o perfil e
reconhece que ela tá mais gostosa, mesmo lamentando sequer reconhecer a pessoa
que você estimava.
Nessa hora, se comprometido, você
valoriza aquela celulite da patroa; se procurando alguém interessante, você
prefere aquela tal menina do samba na Pedra do Sal ou a garota do aplicativo,
com tatuagens de vídeo game. E até solteiro e só querendo uma sacanagem, você
pensa: - Será que vale o tanto de baboseira que vou ouvir? Como ela vai me
olhar se eu pedir uma batata com calabresa?
Ainda não entendi, pode até ser
recalque do gordo, mas quem convenceu essas mulheres de que essa troca é
válida? Entrar dentro dos padrões que alguém esquisito estipulou e abandonar
uma essência tão bacana? Equilíbrio, galera! Era mais legal quando as mulheres
achavam chocolate e não carnivor ou whey protein a melhor coisa do mundo. Ainda
prefiro – e acho que sou parte de uma maioria – a imperfeição e a fartura de um
corpo normal, com belo cérebro, ao desinteresse instantâneo que as covers da
Gabriela Pugliesi me fazem sentir.
Pela beleza das mulheres ‘normais’!
Petisque: a porção mais gostosa do bar! Faça isso a dois! Com chopp e sem culpa!
Petisque: a porção mais gostosa do bar! Faça isso a dois! Com chopp e sem culpa!