Vinha evitando, quase como
alguém que padece de uma fobia, alguns contatos mais profundos com cervas e
chopps de fino trato. Minhas preferências, desde uma série de gastos indecentes
em rótulos de alta estirpe ainda antes do último carnaval, deixaram marcas
profundas em minha vida. Meu cartão de crédito e minha lomba financeira, por
ainda guardarem marcas de tal peripécia, motivaram essa abstinência responsável.
Ficou como lição que me embolar em uma batalha etílica e mediúnica entre Deus e
Lúcifer não poderia acabar bem de forma alguma.
É óbvio que não estou aqui
para cuspir na Bud ou na Brahma que bebi e muito menos para desdenhar do chopp
Heineken ou do Brahma (cineminha) Black. Fato é, que nos últimos cinco meses,
eles seguraram minha onda, me fornecendo toda a carga energética que só esses
néctares possuem. A velha síntese do alimento completo, o pão líquido nosso de
cada dia. Bem verdade que depois desse longo período, vivi uma experiência
psicodélica e psicotrópica inesquecível, que achei razoável dividir com os
senhores, já que a conta ficou só pra mim.
Essa viagem começou com a
boa companhia de bons e velhos amigos e a eterna e falsa esperança de um chopp
despretensioso e sem qualquer alopração. Realmente é incrível notar como o
homem se ilude para crer no que tem vontade. A princípio seria tudo
relativamente rápido e baratinho, quase frugal, eu diria. Aproveitaríamos o
início de um fim de semana de festejos de nosso grupo, com uma semana bem
folgada, provocada pela visita de Sua Santidade, o Papa. Logo, era preciso
pegar leve. Rodamos por aí e escolhemos o Itahy da Freguesia, ficava perto para
quase todos e recebemos boas indicações, tudo lindo.
Chegamos lá e demos início
aos trabalhos com uma Paulistânia, só pra diminuir a tremedeira e parar de suar
frio. Serve como ressalva sobre este primeiro rótulo que é realmente uma
cerveja de primeira, apesar do batismo questionável. O local é realmente muito
bom e recomendo demais, o atendimento é bom e os petiscos são excelentes.
Queria deixar registrado uma menção honrosa ao delicioso combo do pão de alho
com linguiça, espetacular! Depois de algumas poucas garrafas, passamos ao
momento sofisticado da noite.
Confesso que assim que
cheguei fiquei encantado com a carta oferecida no local. Opções diversas de
chopp e cerva, mas já fui “na intenção”. No fundo, eu “tava pro crime” desde o
início. Depois dos festejos iniciais e de equilibrar meu paladar matando minha
fome, tentei começar um rito mais especial. Olhei para a carta, olhei para o
amigo gravatinha e perguntei se eles realmente tinham chopp Deliruim Tremens.
Ele me respondeu de forma positiva, aumentando meu nervosismo. Perguntei aos
meus nobres comparsas se eles também dividiriam essa experiência comigo e,
apesar do preço, a resposta foi imediatamente positiva.
Deliruim Tremens é uma
psicose causada pela abstinência ou suspensão no consumo do álcool, ou de benzodiazepínicos,
mas acho que o último caso não combina com o post, Lexotan faz mal, cerveja faz
feliz! Seria então a tal tremedeira que a Paulistânia reduziu (rs)? Era isso
que eu estava lendo na tela do telefone enquanto aguardava quase que suando
frio, a chegada do portador do santo líquido.
E então, ele chegou, em uma
taça bojudinha e simpática, recheada de elefantes rosados, que voavam naquele
papel de parede cor de ouro e com um belíssimo colarinho, que parecia desenhado
à mão. De longe, apesar de bem desenhado, seu colar parecia ralo, mas só
parecia! As simpáticas louças do elefantinho foram gentilmente dispostas sobre
a mesa, agora promovida a távola, que estava no centro de nosso animado papo.
Sabíamos da importância litúrgica de se apreciar um néctar como o que ali
estava de forma correta.
Tomamos as paquidérmicas
taças em nossas mãos, avaliamos mais uma vez a disposição de cores e a
composição incrível entre o líquido e sua espuma, ela era fina, mas não parecia
rala. Brindamos e fomos apreciar esse complexo chopp.
Antes de deglutir o conteúdo
do copo, fiz questão de avaliar seu aroma. Mais uma vez me surpreendi e meu
transe aumentava de modo exponencial. Seu cheiro lembrava frutas, diversas
frutas! Não sei que notas estavam ali presentes, afinal, minha sofisticação tem
limites, mas algo lembrou-me banana e pêssego.
Dei o primeiro gole e meu
paladar entrou em um delicioso e psicodélico colapso. A espuma tem sabor suave,
sendo leve e fina, mas é bem densa e marcante. Minha primeira vontade foi pedir
uma colher, tal colarinho merecia a atenção dada a um mousse ou um chantilly de
primeira linha! O líquido dourado conserva os sabores que se assemelham a uma
salada de frutas, com uma lembrança especial para o sabor de banana e pêssego,
mas agrega alguns sabores mais cítricos, que meu olfato não havia sentido e que
meu paladar não conseguira definir, mas ainda acho que pode parecer abacaxi. O
malte também pode ser notado com facilidade e sem qualquer proporção enjoativa.
Pensei sinceramente que fosse terminar aquele gole deparando-me com um elefante
rosa voando ao meu lado.
Voltei diferente ao mundo
real depois do primeiro gole. O restante da experiência mostra que apesar do
sabor marcante e divertido, esse néctar bem fermentado é encorpado e único,
valendo cada centavo dessa experiência. Não me parece um chopp que deva ser
banalizado, seu preço salgado faz com que seu bolso te force a apreciar dentro
de um volume correto.
O chopp do elefantinho rosa
é realmente de outro mundo, recomendo a todos essa viagem. A sensação é tão boa
e alucinante que até na hora de pagar você não liga tanto assim. Espero viajar
mais vezes com esse essa simpatia de mascote. Depois de tanta sofisticação,
definiria no populacho que é um chopp de fazer o cu cair da bunda!!!
Recomendo!